Esses três aí em cima, o título, subtítulo e autor são de um livro sobre um tema mais do que bauruense, o Esporte Clube Noroeste. Bruno é repórter do diário bauruense BOM DIA, atuando hoje mais na área política (imposições editoriais), mas sua formação foi quase que exclusiva dentro do segmento esportivo. Esse texto foi sendo formatado quando ainda estava nos bancos da universidade, resultado de um projeto de conclusão do curso de Comunicação Social – Jornalismo, da Unesp Bauru. Bruno não parou mais e o relatado aqui de forma romanceada (não seria drama?), tem como cenário uma das passagens mais preocupantes da história do alvirrubro noroestino, os quatro anos, de 2002 a 2007, quando passou de suma situação de falência quase total para outra, de estabilidade, sob comando de Damião Garcia. Bom período para análises. Bruno criou um personagem, o Paulo, recém chegado de retorno à Bauru, após anos morando no Rio de Janeiro e, amante do futebol e do time de sua cidade, reencontra o mesmo na bancarrota. Bruno transporta Paulo para todas as situações nesse período, fazendo com que o leitor tenha um pleno entendimento de todos os percalços e ocorrências do período. Li o livro me vestindo na pele de torcedor (assim como Bruno), servindo para reviver cada passagem, sofrendo novamente em todas, pois estive em quase todos os jogos daqui (nenhum fora), mas sofri intensamente nos momentos ruins e estive junto do time na ascensão do período Damião.
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Bruno Mestrinelli, autor do livro |
Quando no livro, Bruno revive a passagem anterior de Jairzinho por Bauru, lembrei-me de cara de uma matéria com o mesmo na extinta revista Interview (recortei a mesma e deixei pessoalmente com um antigo repórter de rádio, o Dedé, já falecido), quando este disse mais ou menos isso: “Não sei como pode existir um clube como aquele. Nada por lá é organizado. Uma bagunça total e ainda querem que o time participe de torneios importantes. Foi uma passagem triste no meu currículo”. Aquilo nunca me saiu da cabeça e mesmo doendo ler aquilo, na maioria das vezes dentro da história do clube era a mais pura verdade. O trecho inicial do livro revive um pouco daquilo, a bagunça generalizada e um nem sei como existir. Daí o título do livro do Galvão de Moura, “Onze Camisas Futebol Clube”. Numa passagem Paulo diz algo assim, refletindo esse tipo de situação: “nem em time de várzea isso acontece”. Coisas só do Noroeste, exclusivas dele.
Bruno e todos nós torcedores ainda estamos sob os anos Damião no Noroeste e ainda não conseguimos analisar muito bem se sua passagem será benéfica no futuro. Do presente, quer queiramos ou não, o Noroeste voltou a reviver passagens gloriosas. A grande crítica seria se ocorre uma lavagem de dinheiro no clube, uma utilização do mesmo para essa finalidade, mas por outro, sabemos que futebol não é brincadeira de amador e um sonho a ser realizado sem a presença maciça do vil metal. Observa-se também não existir nada de palpável para o futuro, ou seja, “O que será do Noroeste quando Damião entregar o cargo?”. A grande preocupação é que retorne a ser o que sempre foi, um falido e problemático time do futebol, que viverá mal e porcamente (parcamente também) das pernas. Nada está sendo feito para garantir um Noroeste viável para o futuro. O livro, na verdade não trata disso, mas não resisto em pensar nesse tema, assim como o Paulo, personagem do livro, deve perder noites de sono debruçando-se sobre esse tema.
O engraçado na história do personagem Paulo é que ele nasceu no mesmo ano que eu, 1960, tendo ambos a mesma paixão pelo clube. Outra coisa que ressalto é que, tenho um filho, 16 anos e não consegui fazer com que tivesse o mesmo amor que possuo pelo clube. Será que todos da minha geração tiveram o mesmo problema que eu? Se tiverem, qual será o futuro do torcedor noroestino? Bruno explica isso, numa frase que grifei do mesmo: “Já não te falaram que é fácil entender de futebol, mas difícil entender de Noroeste” (pág. 40). Fora isso, passei bons momentos com as histórias do livro, como a passagem das viagens em ônibus juntos dos torcedores (que fiz pouco, mas ainda procuro fazer). Numa delas Bruno reproduz algo que também presenciei: “Um senhor de idade, que sempre viajava com o Noroeste, apelidado de véio ladrão, sempre fazia a festa da torcida. Ninguém sabia como, mas ele conseguia vários cartões de consumação” (pág. 50). Ri na passagem, pois numa viagem morri de medo na forma como alguns descem dos ônibus e invadem os postos. Uma devassa. Gostei também da importância dada por Bruno à Sangue Rubro, a torcida uniformizada a persistir junto do time. Sobre isso anotei: “Os torcedores da Sangue Rubro eram uma espécie de pára-raios. Quando o time ia bem, eram cumprimentados e exaltados. Quando o time perdia, eram xingados e humilhados, até mais do que os jogadores” (pág. 57).
Vibrei com o relato do Bruno em algumas passagens. Revive intensamente o triste dia da morte do Celso Zinsly (estava fora do campo com Roque Ferreira), os vários enterros do Marília com o caixão azul e branco, a passagem do técnico Paulo Comelli, a importância dada ao Pavanello da Sangue, entre tantas outras. Uma longa frase na última página mostra o que é o que vem a ser o Noroeste: “Para quem quase fechou as portas em 2002, sem um real sequer para comprar um quilo de bife para seus atletas; para um time que não tinha dinheiro para comprar gelo para tratamento dos seus atletas; para um time que viu seus jogadores pegarem caronas para jogar um partida em Bauru; e, principalmente, para a torcida, o verdadeiro patrimônio do Esporte Clube Noroeste, aquele que quase desistiu de ir ao estádio Alfredo de Castilho: os últimos quatro anos foram inesquecíveis e ficarão marcados”. O livro do Bruno mostra como é a real situação da maioria dos times do interior paulista e minha única preocupação é não endeusar demais Damião Garcia, pois pouco se conhece os bastidores da vida privada do Noroeste e nada existe de garantia de uma vida futura saudável. Mesmo que a atual situação não seja de privações, nada assegura um futuro saudável. A apreensão continua e o time, sob comando do Damião, sobe novamente para a 1ª Divisão do Paulistão, no ano do seu Centenário. E isso seria possível sem a presença dele? Como? Tudo isso fervilha a mente do torcedor e também do Bruno, que já tem no prelo outro livro, sobre o mesmo tema e nesse talvez a resposta para algumas de minhas indagações, que são as mesmas da maioria dos torcedores.
PS.: A foto da capa do livro é minha, as duas do Bruno me foram cedidas pela Camila, do Bom Dia e a ilustração do "Volvemos!" é do chargista e noroestino Gustavo Duarte, retirada do seu blog (www.mangabastudios.blog.uol.com.br). Esse desenho dele virou uma camiseta, que ele revende.(ja comprei a minha) e aceita pedidos.
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