Esse negócio de torcer para um time interiorano, o de sua aldeia é algo difícil de
explicar,
pois com a tamanha transformação no futebol nos tempos atuais, esse
motivador de te fazer sair de casa, ir para o estádio, juntar-se a
outros
na mesma situação é de um prazer inenarrável. Estou sempre do lado do
mais fraco. Escrevinhamos horrores contra os desmandos todos do futebol
atual, os males de um nefasto Ricardo Teixeira para o futebol, negócios
perniciosos grassando como peste e no começo da festa, o pessoal da
diretoria do time aporta no estádio de helicóptero, direto para a
Tribuna de Honra. Esses os donos do time e nós, os torcedores a fazerem
festa, meio que sem notar o inustitado da cena. Minha indiferença (e não
aceitação) tem uma explicação. Sou daqui, meu avô jogou num dos
primeiros elencos do Esporte Clube Noroeste, anos 10, aprendi com ele a
torcer e gostar de futebol, vibrar com a cor vermelha do meu time, tenho
lembranças mil de escretes que fizeram história a vestir essa camisa e
hoje, mesmo absorvendo esse momento atual, como Brizola o fez numa
eleição presidencial, a que denominou de "obrigação em engolir o sapo
barbudo", continuo do lado de cá (e só do lado de cá). Engulo o que
fizeram do nosso futebol a fórceps, mas como não sei mais abandonar esse
vício, continuo nele, tentando extrair o que restou do néctar.
Permaneço junto os que conheço, os que sei
torcerem
por amor, os que vibram com a camisa vermelha, os que vem para o
estádio, para terem a felicidade de se reencontarem, baterem papo,
xingarem o juiz e é claro, gritarem felizes da vida os gols
que dão a vitória do seu time. Volto por causa disso.
Ontem, 25/02, o Noroeste empatou com o Rio Claro por 1x1 e poderia
ter facilmente ganho o jogo. Isso um detalhe, o inebriante desse negócio
da bola. O que nos faz ir e voltar aos estádios. Esse amor, tenham
certeza, não será Damiões ou outro qualquer que o dimunuirá. Voltarei,
pois sei que tudo isso, assim como a vida, sempre terão suas voltas,
idas e vindas. No Brasil de hoje, não existe um time puro, onde não
impere esse negócio esportivo de uns lucrando sobre os demais, tirando
proveito, mas volto não só por causa do amor conquistado, mas para rever
pessoas. Como me é grato abraçar os amigos a cada curva. O Mirtão, que
mora quase ao lado estádio não perde um jogo e vibra como
criança.
Eu trouxe ontem pela primeira vez um garotão, que o chamo de
Corintiano, meu vizinho, que nunca tinha vindo a um estádio e sua cara
era de pura alegria, por ver como todos tratavam o espetáculo. No meio
da Sangue Rubro, Pavanello sempre atento aos excessos da rapaziada e nas
costas de um torcedor uma marca recém feita, a de uma tatuagem com o
escudo do time. "Sofreu bastante, acabou nessa semana, mas mesmo com a
dor, diz que valeu a pena", me diz
Pavanello.
Venho com Aldo Wellicham e vou trombando com gente conhecida, como a
mais remota lembrança que tenho de gente a comercializar produtos dentro
do estádio, o do vendedor de paçocas. O mesmo de décadas atrás, que
passa o negócio para seu filho. O velho fica no carrinho e o filho a
percorrer as arquibancadas.
O time perde gols, bola na trave, outras raspando o travessão,
ataques desperdiçados e num único ataque, sofremos um empate com um gol
de falta. Vi belas jogadas, toques sutis, que bonito ver tabelas bem
feitas para entrar na zaga adversária. Em alguns momentos, fiquei, como a
maioria, cheio de esperanças. Não deu,
mas
foi vibrante estar ao lado de outro jovem torcedor, não mais que uns
vinte e cinco anos, desses que tentam demonstrar com sua energia como o
time deve se conduzir. Não parou de falar um só minuto (e de xingar),
mas foi vibrante vê-lo, falante e a demonstrar um amor pouco visto em
outras atividades vida afora. Vendo que não ganharíamos de jeito nenhum
propôes uma tática de game, mas ela não foi escutada pelos do lado
dentro. No fim
da contenda, paro para um papo com Tigrão, um velho e conhecido
torcedor, cuja lembrança dele vindo ao estádio com uma bateria e uma
sonora buzina, virando marca registrada de uma época. Volta todo jogo,
como eu e esses aqui presentes. Reclama, grita, estravaza, mas não deixa
de marcar presença. Eu, assim como Tigrão, estamos muito preocupados
com os bastidores, mas na alegria e na tristeza, na saúde e na doença,
estaremos sempre por aqui. Qual é o próximo jogo mesmo?
Henrique Perazzi de Aquino " diretamente do Máfua do HPA"
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