Time de Bauru enfrenta o Capivariano, no Alfredão e sabe que
precisa deixar os bastidores de lado
Caro jogador noroestino: que nos noventa minutos da partida
contra o Capivariano, que começará hoje, às 10h, no estádio Alfredo de
Castilho, você possa esquecer todos os problemas dentro e fora de campo. Mais
do que a reputação pessoal de cada um dos onze atletas, está em jogo o próprio
futuro do Esporte Clube Noroeste.
A situação realmente não é nada boa. O time bauruense ocupa
a 15ª posição, com apenas 19 pontos, dois a mais do que a zona de rebaixamento.
São nove partidas sem vitória, com dois empates e sete derrotas, igualando a
marca negativa de outro rebaixamento, na Série A-1, em 2009.
Não bastasse isso, enfrentará uma equipe que ainda briga
para se classificar e que está na sétima posição, com 27 pontos e que precisa
vencer para não depender de combinações de resultados.
Mas esse é o menor dos problemas, para falar a verdade. As
últimas semanas foram conturbadas para vocês atletas, os membros da comissão
técnica e diretoria noroestina. Não teve um dia que não surgisse uma nova
polêmica, um novo “incêndio” a ser controlado.
Tudo, claro, gira em torno dos salários atrasados.
Tanto em fevereiro quanto em março foram alguns dias em que
as contas se acumulavam até que algum dinheiro pingasse nos bolsos. É duro, eu
sei disso.
Vocês ameaçaram até fazer uma greve, por conta disso. Não
levaram adiante, bateram de frente com membros da diretoria que ameaçaram
entrar no vestiário no intervalo de uma partida no Alfredão.
É uma situação bem diferente da vivida até o ano passado,
com os cofres cheios e sob comando da família Garcia. Agora faltam patrocínios.
O clube terminará a Série A-2 sem um patrocinador master que banque todas as
contas e os salários dos funcionários.
Até apareceram algumas parcerias, mas são para lá de
suspeitas. Uma delas foi desfeita ainda no primeiro dia de gestão de Anis
Buzalaf Júnior. A outra, mais recente, incendiou os bastidores mais uma vez,
ameaçando rachar a própria diretoria noroestina.
Faltou planejamento, faltou dinheiro, faltou experiência.
Tudo isso é fato. Não é fácil jogar assim, admito. Mas guardem bem o conselho
de Luciano Sato, o treinador interino que tentará evitar a catástrofe do
rebaixamento. “Temos que estar fechados nesse jogo. Nada pode interferir o
nosso planejamento”, alertou.
Portanto, deixem a falta de dinheiro, de planejamento e de
gestão de lado. Se faltou tudo isso nas 18 rodadas anteriores, tentem compensar
hoje com excesso de raça, de vontade e de comprometimento.
O Capivariano nem é tão poderoso assim. Ele saiu da Série
A-3 no ano passado, a mesma que hoje queremos evitar. Custe o que custar.
Esqueçam os problemas, jogador noroestino. Até porque eles
também se acumulam dentro das quatro linhas. O capitão Bonfim está fora,
cumprindo suspensão automática. Uma ausência muito sentida, mas que será
substituído por Magrão, prata da casa.
Eles, aliás, poderão ser a nossa esperança hoje de evitar o
desastre. Mizael retorna à lateral direita e Romário será opção para o segundo
tempo caso Emerson não consiga desenvolver seu jogo. No fim das contas, eles
serão, de fato, o futuro noroestino. Seja para continuar na A-2, ou para
recomeçar tudo de novo na Série A-3.
Maldição do ano ímpar
Para quem acredita em sorte, azar, coincidência de datas e
outras coisas do tipo, tenho uma má notícia para você, torcedor noroestino.
Quando a equipe chegou lutando para não cair em ano ímpar, o Noroeste sempre
levou a pior.
As grandes campanhas noroestinas sempre foram em anos pares,
tirando algumas raras exceções. Basta olhar os dois melhores desempenhos na
elite paulista. A quarta colocação foi conquistada em 2006. A quinta posição
veio em 1960. O último título foi a Copa Paulista do ano passado.
Claro que teve algumas raras e ótimas exceções. O primeiro
título, por exemplo, foi o Interior de 1943. Teve também o ano de 2005, que
marcou o retorno à Série A-1 e o primeiro título da Copa Paulista.
Mas repare que os últimos rebaixamentos noroestinos sempre
foram em anos ímpares. No período conhecido como “iô-iô”, por exemplo, o
Noroeste caiu em 1981, voltou em 1984 e caiu novamente para a segunda divisão
em 1985.
O Noroeste voltou a subir em 1986, fez boa campanha em 1987
com uma equipe até hoje lembrada pelos torcedores, mas após alguns anos na
elite, voltou a ser rebaixado curiosamente 20 anos atrás, o que representaria o
início da queda noroestina na década de 90.
Depois disso o time caiu em 1994 para a terceira divisão,
voltou em 1995, mas voltou a cair em 1999, num ano para ser esquecido. No
último jogo contra o Paraguaçuense, no Alfredão, o Noroeste jogava pelo empate
para não cair, abriu 2 a 0 no placar até a metade do segundo tempo, mas tomou a
virada nos últimos minutos e retornou para a terceira divisão.
Saiu de lá apenas em 2004, no início da era Damião Garcia.
Teve dois acessos seguidos emendado com a campanha histórica de 2006. Seriam
sinais de novos tempos?
Não muito. A aventura na elite durou apenas quatro anos. Em
2009, ano ímpar, o Noroeste fez uma campanha ridícula na elite paulista e foi
rebaixado sendo goleado por 5 a 2 pelo Mogi Mirim em pleno estádio Alfredo de
Castilho.
No ano do centenário, em 2010, conseguiu novamente subir,
mas relembrando os tempos de iô-iô, o Noroeste voltou a decepcionar em 2011,
caindo mais uma vez após a derrota para o Ituano.
Agora, porém, o time terá que se superar para que a história
não seja a mesma de 1993. Após uma campanha surpreendente na primeira metade
deste campeonato, já são nove partidas sem vencer, mesma marca de quando caiu
em 2009, na primeira divisão. Não bastasse isso, é a primeira vez desde 2005
que o time bauruense ficará mais de duas temporadas longe da elite paulista.
Situação que pode piorar, claro, pois menos de um ano após a
saída de Damião Garcia (em setembro do ano passado), o clube pode voltar à
“estaca zero” de quando ele salvou da falência, em 2002: um time sem dinheiro e
na Série A-3.
São contra esses números e esse retrospecto que o Noroeste
jogará hoje de manhã, no Alfredão. Por 90 minutos, os jogadores, comissão
técnica, diretoria, torcedores e imprensa terão que esquecer a crise
administrativa, os atrasos nos salários, a falta de patrocinadores e tudo o que
puder atrapalhar o time. Porque se o Noroeste cair, a situação vai piorar muito
antes de ter alguma melhora.
Gustavo Longo/ Bom Dia Bauru
Gustavo Longo/ Bom Dia Bauru