Formando o famoso trio de ataque do Norusca nos anos 40:Crisanto, Adolfrizes e Cirilo ( pai de João Bidu) |
Antes de
Pelé e Toninho Guerreiro, Adolfrizes deixou Bauru para jogar no Santos
A imprensa
brasileira tem dado espaço, seja na escrita, falada ou na televisão, ao
centenário do Santos F.C., e muitas informações têm vindo à tona em relação aos
mais importantes acontecimentos que envolvem a tradicional equipe praiana, com
destaque às suas principais conquistas.
Devemos
lembrar que o Peixe, fundado em 1912, somente em 1935 alcançou o título máximo
daquela temporada, lutando na oportunidade frente a equipes como Corinthians,
Palmeiras, São Paulo F.C. e outras de menor expressão. Com méritos levou para a
cidade das praias o almejado cetro de campeão daquele ano.
No entanto,
de 1936 a 1954 o Santos não mais alcançou o êxito desejado, chegando apenas em
1948 ou 1949 ao vice-campeonato. Porém, em 1955 conseguiu formar um excelente
elenco e foi, ao fim do campeonato, o grande campeão.
Em 1956,
com Pelé já aparecendo em alguns jogos, conquistou o bi-campeonato e, de lá
para os dias de hoje, viveu uma sequência de inesquecíveis vitórias, tanto no
Brasil como em campos estrangeiros.
Adolfrizes,
o primeiro
Muito se
fala hoje, com razão, nos bastidores futebolísticos de Bauru e do Brasil, a
respeito de Pelé e Toninho Guerreiro, ambos oriundos do futebol da Sem Limites,
os quais teriam sido os dois primeiros a envergar a gloriosa jaqueta do
carinhosamente chamado de Baleia.
Realmente,
na época do profissionalismo, esses craques que começaram em Bauru, levaram o
bom nome da cidade para além das divisas do município e durante anos foram
atletas de respeito até mesmo no mundo.
No entanto,
a verdade deve ser dita com relação a ida de jogadores interioranos para o
Santos F.C., pois foi em 1944 que um bauruense chegou até Vila Belmiro e lá,
por aproximadamente três anos, defendeu as cores do Alvinegro praiano, tanto em
jogos oficiais como em amistosos. Falamos do craque Adolfrizes Novaes, que aqui
começou no tempo de amadorismo, quando defendia o São Paulo da Bela Vista, e
passou a jogar pelo E.C. Noroeste quando tornou-se um verdadeiro ídolo da
torcida e atuando no trio atacante formado ao lado de Crisanto e Cirilo (este é
o pai do João Bidu).
Adolfrizes,
durante muitos anos foi uma lenda no futebol praticado na então Capital da
Terra Branca e, em 1943, quando o E.C. Noroeste foi o grande Campeão do
Interior, ao vencer e empatar com o
Guarani de Campinas, no Pacaembu, por 1 a 0 e 0 a 0, ganhou grandes elogios da
crônica esportiva paulistana presente naqueles dois jogos memoráveis.
A diretoria
do Santos F.C., que na época já dava oportunidade às gratas revelações do
futebol interiorano, manteve contato com dirigentes do Alvirrubro e conseguiu a
contratação do nosso artilheiro. No Santos F.C.,teve ao seu lado nomes como
Dacunto, Pirombá, Canhoto, Caxambu, Antoninho Fernandes e Rui.
Por ocasião
de uma movimentada excursão pelo Norte e Nordeste, Adolfrizes foi o artilheiro
com a marcação de gols decisivos naquela trajetória santista por diversas
capitais brasileiras. Em certa época, com a finalidade de reforçar sua equipe,
o Santos contratou junto ao Palmeiras o centroavante Caxambu, oriundo do São
Cristóvão (RJ), e Adolfrizes foi deslocado para a meia esquerda.
No entanto,
com o decorrer de algum tempo, o avante bauruense, sentindo saudade de Bauru,
de familiares, amigos que aqui ficaram e também desencantando com as
modificações que a direção técnica do Peixe promoveu, ou seja, passando Adolfrizes
para a meia esquerda, decidiu retornar para Bauru.
Com o
contrato prestes a terminar, forçou ele a rescisão do seu compromisso e de
imediato voltou para a sua terra. Demonstrando o grande amor pelo Noroeste, não
aceitou uma oferta que lhe foi feita pelo Bauru A.C. (ex-Lusitana F.C.) cujos
valores eram bem maiores que a proposta noroestina.
Adolfrizes
muitas vezes era solicitado pelas agremiações da região, a fim de reforçar seus
elencos em jogos amistosos contra outros times, principalmente frente aos
chamados grandes da Capital. Certa vez defendeu, emprestado, o São Bento de
Marília em uma partida não oficial contra o S.C. Corinthians Paulista.
Comentando sobre aquele jogo, Adolfrizes jamais se esqueceu quando teve pela
frente o renomado zagueiro, o melhor da história do futebol brasileiro de todos
os tempos, Domingos da Guia.
Adolfrizes
jogou até 1953 e chegou a integrar o time principal por ocasião do campeonato
daquele ano – II Divisão – quando o E.C. Noroeste pela primeira vez foi
promovido à elite do futebol paulista.
Formada a
equipe para aquele certame, por várias vezes Adolfrizes foi titular, acabou
cedendo o seu lugar para atacantes mais jovens, a exemplo de Zeola, Colombo,
Brotero, Luiz Marini e outros.
Família de
‘boleiros’
Adolfrizes
era de uma família de jogadores, a exemplo do seu pai – Novaes – que nos anos
20 e 30 também jogou pelo Noroeste. Seu irmão Mirtola, que igualmente foi
titular em muitos jogos do Noroeste e do Banco A.C., depois passou a defender
equipes amadoras da cidade, tendo sido um grande artilheiro, marcando de 4 a 5
gols por jogo. Bodinho e Tidão foram outros irmãos que tiveram boa passagem
pelo futebol amador bauruense.
Falecido há
alguns anos, Adolfrizes deixou uma história muito bonita em sua presença pelo
futebol bauruense e santista, história essa que provocou a sua contratação pelo
Santos F.C. e lá jogou alguns anos. Com esta reportagem, procuramos também
corrigir informações sobre os bauruenses que já defenderam o Santos F.C., que
apenas falam sobre Pelé e Toninho Guerreiro, mas foi Adolfrizes quem, a bem da
verdade, pela primeira vez vestiu a honrosa jaqueta do Campeão da Técnica e da
Disciplina.
Luciano
Dias Pires especial para o JC