Em 1950, esse gol do uruguaio Gighia calou 200 mil torcedores |
A MALDIÇÃO DE 1950
Amanhã, dia 16 de julho, a memória dos velhos torcedores
viaja para aquele domingo de 1950, decisão da Copa do Mundo no recém inaugurado
Maracanã. Lotado por 200 mil torcedores, o equivalente a 10 % da população do
Rio de Janeiro, com a certeza do título contra o Uruguai.
Favorito disparado para nove entre dez jornalistas
estrangeiros, e precisando apenas do empate, o Brasil vencia por 1 a 0 até o
21º minuto do segundo tempo. Em treze minutos o Uruguai pôs o mundo de
ponta-cabeça: 2 a 1.
Durante dias, meses e anos, a perda do título pairou como
maldição. Os saudosos meias brasileiros Zizinho e Jair, dois craques que
beiravam a genialidade, nunca mais seriam chamados para uma Copa do Mundo. A
cada 16 de julho o lateral esquerdo Bigode (1922-2003) era procurado pelos
jornalistas para explicar "sua
falha" no gol da vitória uruguaia marcado pelo ponta Gighia. Igual
interpelação era feita ao goleiro Barbosa (1921-2000). Nem mesmo o passar dos
anos e a mudança de mentalidade livraram Barbosa de interlocutores
eventualmente obtusos, como por exemplo o técnico Zagallo, que na concentração
de Teresópolis em 1994 proibiu-lhe uma foto conjunta com o goleiro da seleção,
Taffarel. Por que?
Ora, para livrar o Taffarel da "maldição do 16 de
julho" encarnada pelo Barbosa...Maldição para nós, porque no Uruguai, até
hoje, se comemora no dia 16 de julho, aquele "Maracanazo"!
Ovídio Andrelo, 82 anos, estava no Maracanã naquele 16 de julho. |
ELE VIU TUDO!
Pai da minha colega, professora Roseane, da FAAC/UNESP, de
Bauru, natural de São Manoel, morador de São Paulo, Ovídio Andrelo fazia parte
daquele público recorde no velho Maracanã.
Conversei com ele, semana passada. Memória em dia, é capaz
de reproduzir não só detalhes do jogo, como refazer a atmosfera que antecedeu a
disputa.
Havia uma certeza tão grande da conquista, relembra Ovídio,
que "muita gente insistia junto ao
médio esquerdo Bigode pedindo que ele moderasse seu estilo na marcação sobre o ponta Gighia para não estragar a
festa...".
Quer dizer, pontua o Ovídio, pediam ao Bigode, um
lateral que se impunha na marcação pela
força física, que "evitasse jogo
brusco, faltoso, etc."....Foi exatamente por aquele espaço, que o Gighia,
sem marcação, seguiu avançando, o Bigode
recuando, recuando... até o chute do ponta para vencer o goleiro Barbosa e dar
o título ao Uruguai.
Lucidez e precisão na
memória do Ovídio Andrelo.
João F.Tidei de Lima/ Historiador