Futebol-empresa invade o Campeonato Paulista

Desde a década de 80 que aos poucos o futebol vem sendo seduzido pelo neoliberalismo no esporte. O novo paradigma mercadológico explodiu com mais força na década de 90.

Desde então temos assistido os romances clássicos do Palmeiras com Parmalat com final infeliz, também mais recentemente com a Trafic. O Corinthians que se ferrou com a MSI, o Flamengo com a ISL, o Cruzeiro com a Hick & Muse, etc.

Bem ou mal o processo vai se instalando. Vamos saindo dos cartolas feudais, tipo Eurico Miranda, e passando para o poder corporativo. São sociedades comerciais, a versão mais acabada de clubes-empresa que surgem no cenário nacional. Coisa que já acontece pelo mundo afora.

O futebol deixa de ser apenas um jogo, uma competição para ver quem ganha, para divertir e transforma-se num negócio para dar lucro. Agora é um espetáculo, com TV, tudo arrumadinho, muita organização e, de preferência, com jogo bonito, o que nem sempre acontece.

Talvez ainda um tanto imperceptível para o grande público essa tendência está mais forte e próxima de nós do que possa parecer. Num rápido levantamento no futebol paulista, detectamos que nas várias esferas, entre A1 e Segundona, nas quatro divisões (A1,A2,A3 e Segunda), já temos quase 20 clubes nessa situação.

Na Segundona, de 45 clubes, oito são empresas: Américo Esporte Ltda. (Américo Brasiliense), Academia Desportiva Mantiqueira Futebol Ltda. (Guaratinguetá), Brasilis F.C. Ltda. (Águas de Lindoia), Desportivo Brasil Participações Ltda (Porto Feliz), Olé Brasil F.C. S/A (Ribeirão Preto), F.C. Primeira Camisa Ltda. (São José dos Campos), E.C. São Judas Tadeu Ltda. (Jaguariúna), C.A. Votuporanguense Ltda. (Votuporanga).

Na Série A3 tem apenas o Grêmio Esportivo Osasco Ltda. Na Série A2, de 20 clubes, seis são empresas: Audax (Pão de Açúcar (São Paulo), Ferroviária Futebol S/A (Araraquara), Grêmio Barueri Futebol Ltda. (Barueri), Red Bull Brasil (Campinas), São Bernardo F.C. Ltda. (SB) e São Carlos Futebol Ltda. (S.C.).

Finalmente na Série A1 são dois: Guaratinguetá F.C. e Paulista F.C. Ltda de Jundiaí.

Um detalhe interessante é que essas equipes-empresa dão uma atenção especial à revelação de jogadores, como se pode notar pela Copa São Paulo de Futebol com garotos de até 18 anos. Muitas promessas apareceram nesses clubes, que trabalham muito a exportação de jogadores. É outro viés bem significativo no processo.

Aqui em Bauru o Noroeste continua no antigo, tradicional e feudal sistema de clube de dono. E tem um agravante, com dono que não entende de futebol e não acompanha de perto as coisas e o dia-a-dia do futebol. Assim, fica nas mãos de terceiros e de empresários. É um grande risco.
Mas este assunto fica para uma próxima coluna.

Paulo Sérgio Simonetti/ Rádio 94Fm de Bauru



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