Luciano Sato: andarilho da bola

Luciano Sato
Luciano Sato é natural de Jacuba. Revelado pelo Novorizontino, o ex-meia-atacante e atacante conquistou títulos no futebol brasileiro até iniciar trajetória internacional que lhe valeu a experiência de atuar em 25 países diferentes. Sensei (neto de japoneses) e com ascendência materna italiana, em suas andanças pelo mundo do futebol teve oportunidade de jogar no Japão, país com o qual desenvolveu profunda afinidade e onde cursou pós-graduação em futebol.

Sato viveu dez anos fora do Brasil, prova de adaptabilidade, e absorveu elementos culturais e futebolísticos que influenciaram sua formação como treinador. Chegou ao Noroeste em 2011 e já exerceu a função de técnico e coordenador das categorias de base, e dirigiu a equipe principal em uma partida na transição entre os técnicos Amauri Knevitz e Moisés Egert com uma vitória, fora de casa, sobre o América de São José do Rio Preto por 4 a 1 na Copa Paulista deste ano. No momento, Sato faz os últimos ajustes no time noroestino que vai disputar a Copa São Paulo de Juniores em janeiro, e auxilia o novo comandante do profissional, Carlos Alberto Seixas.



Jornal da Cidade - Até quando jogou futebol e onde iniciou?
Sato – Joguei futebol até quatro anos atrás. Comecei no Grêmio Novorizontino, onde fui campeão paulista de juniores, aspirantes e do Brasileiro da Série C e da Série A-2 do Campeonato Paulista. Fui para o Bragantino, do Bragantino para o Juventus, do Juventus para o Atlético Goianiense, São José e, depois, me transferi para a Coreia e rodei dez anos. Passei pela Coreia, Trinidad Tobago, México, Estados Unidos e por último no Japão. Os últimos cinco anos de minha carreira foram no Japão.

JC – Você acabou saindo cedo do Brasil e jogou muito tempo fora...
Sato – Saí com 23 anos e retornei há quatro anos. Saí em 2000.

JC – Você atuou na Coreia pouco antes da Copa do Mundo de 2002. Como era o futebol coreano naquela época e como foi a experiência?
Sato – Fiquei pouco tempo. Fui uma experiência boa. O pessoal é fanático, mas não tem torcida. É um futebol que estava ainda em desenvolvimento, como no Japão. Eles contratavam bastante brasileiros para dar uma qualidade técnica maior. Eles evoluíram. Estamos falando da Coreia, mas o Japão, hoje, está programando ser campeão do mundo em 2050. Pode ser que seja mais cedo. O futebol feminino japonês foi campeão do mundo antes. Estão planejando 2050 pela deficiência técnica deles.

JC – Nestas andanças pelo futebol mundial tem alguma história curiosa ou engraçada que você se lembra?
Sato – Eu estava jogando no Campeonato Japonês e a palavra “ai” em japonês é amor. Um jogador nosso, brasileiro, levou uma pancada forte e começou a gritar “ai, ai, ai” e os japoneses começaram a dar risada. O jogador falando “amor, amor, amor” e com dor. Então, foi uma coisa curiosa.

JC – Você jogou na América Central. Como é o futebol daquela região?
Sato – É um futebol de força, onde aprendi muito. Tive um treinador (Stewart Charles-Fevrier) que chegou à Seleção de Trinidad e Tobago, mas é de uma ilha perto de Santa Lúcia, e se formou, fez cursos de treinador na Alemanha, como eu fiz pós-graduação em futebol no Japão. Em Trinidad e Tobago aprendi a jogar como no futebol europeu e do resto do mundo. O Brasil é diferente, aqui é mais cadenciado, técnico. Lá é um jogo mais veloz, dois toques na bola. Eu dava três toques e ele (Fevrier) apitava e marcava falta. Eu ficava bravo, sou brasileiro, acostumado a driblar, carregar a bola... Mas eu fui vendo que eu estava errado. Eu tinha que me adaptar ao futebol daquele país. Consegui me adaptar e fiz 35 gols em duas temporadas. Consegui disputar a Concacaf, que é como se fosse a Libertadores aqui na América do Sul. Aí é que foram se abrindo portas para mim. Joguei contra o Kansas City, que tinha jogadores da seleção dos Estados Unidos e foi havendo interesse. Fui para o Kansas e, depois, em um torneio em Nova York, acabei me transferindo para o La Furia Monterrey.



JC – Você, que andou bastante, o que tirou desta experiência multicultural?
Sato – São tantas diversidades culturais. Gosto de lembrar e friso sempre o Japão. É um dos melhores países para se viver, apesar das dificuldades que eles têm lá de terremoto, maremoto e vendaval. É um país planejado, preparado, onde o respeito, o servir, está acima de qualquer coisa. O povo japonês serve você. Eu aprendi a respeitar e servir mais as pessoas com o povo japonês. As crianças iam sozinhas para a escola. Não precisava o pai levar, como nos Estados Unidos e no Brasil. Os mais velhos cuidam dos mais novos. Você ergue a mão na rua e o carro para, pode estar o movimento que for. Eles aprendem que os mais velhos têm que cuidar dos mais novos e os mais novos respeitar os mais velhos. No México, a alimentação mais apimentada, tinha aquele problema na barriga. Na Coreia uma alimentação diferente, um povo que também serve. Para cada país que fui, eu não levei o Brasil junto. Tive que me adaptar à cultura local.

JC – Você acabou fazendo uma coisa curiosa para quem está no Brasil, que é uma pós-graduação em futebol no Japão. Como foi e o que você aprendeu nesta pós?
Sato – Tinha em minha cabeça que iria parar de jogar futebol com 34 anos. Quando eu resolvi parar, como sou formado em Educação Física no Brasil e dentro do clube em que eu jogava tinha um curso de pós-graduação de faculdade e meu treinador dava este curso, ele me convidou. Como falo inglês e aprendi bem o japonês, ele falou para eu ir para aprender. Era toda segunda-feira, no meu dia de folga. Começava 7h e ia até o meio-dia, com aulas teóricas em japonês. Depois, das 14h às 18h, fazíamos as aulas práticas, treinamentos táticos, técnicos, físicos, nutrição, fisiologia. Você tinha uma noção básica de tudo. Eu acho que isso, hoje, é o que falta no Brasil. O brasileiro se preparar para fazer aquilo que ele pretende. Você não pode simplesmente sair de um campo de futebol e vir para o outro lado, de treinador, que é totalmente diferente.

JC – E quando você decidiu se tornar treinador resolveu voltar para o Brasil. Decidiu que era hora de voltar?
Sato – Voltei porque minha filha nasceu. Minha esposa ficou grávida, voltou para o Brasil e fiquei seis meses sozinho no Japão. Vivemos dez anos fora e, de comum acordo, resolvemos não voltar mais. Minha mãe também estava passando por uns problemas de saúde e resolvi ficar mais próximo e tentar seguir a carreira aqui no Brasil.


JC – Como surgiu o Noroeste em sua vida?
Sato – Eu tinha uma escolinha de futebol em Arealva, começamos a fazer uns amistosos e o coordenador da base na época, que era o João Gonçalves, me convidou. Falou que eu tinha um perfil que eles estavam procurando. Nem pensei duas vezes, era uma oportunidade dentro da cidade em que eu vivo e agarrei.

JC – Falando do atual momento, a Copa São Paulo de Juniores para o Noroeste começa no dia 6 de janeiro, quando a equipe estreia contra o Atlético Mineiro. Como está a preparação e o que dá para esperar?
Sato – Nós estávamos preparando um time com atletas nascidos em 94. Começamos a preparar em fevereiro. Em julho, mudou para 93 e temos no elenco quatro atletas 93 também. Os demais são 94, 95 e 96. Seria mais forte se tivesse nivelado 93, mas os jogadores 94 participaram do Campeonato Paulista sub-20, tivemos uma campanha boa, saímos no mata-mata (oitavas de final) contra o Palmeiras. Os jogadores estão preparados, estamos esperançosos, com uma expectativa boa para passarmos da primeira fase. Sabemos que é um grupo difícil, temos o Atlético-MG, Rio Preto e Linense, mas estamos nos preparando.

JC – Você, que trabalha há um bom tempo com os garotos, tem algum que destaca, que é promessa e tem potencial?
Sato – Tem jogadores que vieram chamando a atenção no Campeonato Paulista, oito deles integraram o time campeão da Copa Paulista, entraram, ficaram no banco e já têm uma bagagem. Têm tudo para ser promessa. Tem um menino aqui da cidade, o Samuel Balbino, um lateral-esquerdo, que também joga como meia e vem se destacando. Tem o Douglas, que é meia, o Marcelo, também meia, o Foguinho, volante, que já estava no profissional, o zagueiro Douglas, que veio do Palmeiras emprestado, que também tem qualidade. E outros jogadores que estão no elenco. Às vezes, a gente fala que este jogador vai se destacar e acontece diferente, de outro jogador se destacar. A base é deste jeito.

Wagner Teodoro/ Jornal da Cidade

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