Tudo na face da Terra tem começo, meio e fim. Temos de saber assimilar
os ciclos da vida, sem nos deixar abater. A saída do empresário Damião
Garcia do comando do Noroeste era esperada para qualquer dia destes. O
último ato foi precedido de vários ensaios e datas marcadas e remarcadas
para o desfecho. Embora um apaixonado pelo clube como ele vá fazer
falta ao cotidiano no Alfredo de Castilho, é hora de olhar para frente, a
exemplo do que sempre fizeram os noroestinos desde o início do século
passado.
Como bem disse um dirigente: em seus 102 anos o Noroeste existiu 93
anos sem o benemérito Damião. Foi bom enquanto durou, mas bola pra
frente. Certamente a família Garcia pensou e repensou bastante esta
decisão. Temos de respeitá-la. Contudo, ficou uma importante aresta a
ser aparada para que a tão celebrada Era Damião Garcia termine da forma
como todos os esportistas gostam de ver em seus clubes: com grandeza e
altivez.
A forma (não o mérito) como se deu o desligamento, anunciado ontem,
deixa o clube em uma situação insustentável a curtíssimo prazo, podendo
até fechar, por conta de uma superestrutura de custos fixos e variáveis
criada na fase de bonança, a partir do aporte espontâneo de recursos
feito religiosamente por ‘São’ Damião.
Sabemos que houve apelos anteriores de diretores em prol de uma
transição que recolocasse o Noroeste em patamares realistas antes da
saída de um dos maiores beneméritos da história do clube. É provável que
o amor e o entusiasmo desse noroestino que dá seu nome a todo o
complexo esportivo de Vila Pacífico e quer ver o Norusca sempre lá no
topo da tabela não o permitiram baixar a bola dos gastos gradualmente,
como seria o recomendável.
Então, isso deve ser feito agora, como um último ato de sua parte para
coroar a grandeza de espírito que moveu Damião Garcia, filhos e neto
por quase uma década. Neste caso, mesmo que o ex-presidente não faça
questão, que as despesas finais tenham a contrapartida de passes de bons
jogadores que o clube dispõe hoje. É o que esperam não apenas os
noroestinos, mas toda Bauru e região.
João Jabbour / Jornal da Cidade