Vice, Norusca enche olhos de torcida especial

credito foto:Quioshi Goto
 
Cegos, Ermelindo e Divina foram ontem ao jogo e deram sorte ao Norusca. O reporter Luiz Beltramin assistiu ao lado deles e narra as emoções do casal.

Aos olhos do torcedor que habitualmente vai ao Alfredo de Castilho, a festa já estava armada desde a semana passada, quando o Noroeste garantiu matematicamente o retorno à elite do futebol estadual. Ontem à noite, o gramado da Vila Pacífico foi palco do primeiro jogo do Alvirrubro na condição de time de primeira e a vitória por 2 a 1 sobre o Guaratinguetá - que garantiu o vice-campeonato da Série A-2 do Campeonato Paulista - concretiza um feliz desfecho para o primeiro semestre do clube, que, enfim, celebrará o centenário (dia 1º de setembro) com o status de integrante da primeira divisão.

Os quase cinco mil torcedores -, segundo o Noroeste o público total no Alfredão foi de 4.882 espectadores – que viram o jogo se emocionaram. Mas teve gente que não viu, literalmente, mas que também extravasou a felicidade com o apito final do árbitro e a vitória noroestina de virada.

Acometidos pelo glaucoma, Emerlindo Inácio Martins, de 83 anos, e Divina Maria Silva Martins, de 77, são deficientes visuais. Contudo, isso não foi empecilho para que o casal, que celebrou 60 anos de união no dia 8 do mês passado (leia abaixo), vibrou nas sociais do Alfredão, principalmente com os gols noroestinos, marcados por Marcelinho e Zé Carlos, e cantou com a galera ao final do jogo.

Antes da bola rolar, o casal arrisca os palpites. Para Emerlindo, o jogo festivo terminaria empatado com um gol para cada lado. Já Divina, com cegueira total, foi cirúrgica, para não dizer que acertou na mosca. “Dois a um para o Noroeste”, decreta.

No estádio para o pagamento de uma promessa, feita por Divina, cuja intenção era em prol do próprio acesso alvirrubro, o casal cola os ouvidos no rádio para acompanhar um primeiro tempo com domínio noroestino, mas com perigosas investidas do Guará, que começou assustando, com uma descida perigosa de Lúcio Flávio. Para alívio da torcida, ele chuta para a linha de fundo.

O Norusca responde e mostra maior volúpia na tentativa de abrir o placar. Doda e Zé Carlos perdem boas oportunidades dentro da pequena área, mas a melhor chance é desperdiçada com Marcelinho, que cabeceia no segundo andar, mas a zaga valeparaibana tira, em cima da linha.

Aos 17, o casal se levanta quando a torcida pede pênalti sobre Rafael Aidar. O atacante noroestino caiu na área adversária após um corte na zaga. O árbitro mandou seguir.

Aos 20 minutos, porém, Emerlindo e Divina tomam um susto, quando Lúcio Flávio recebe na área e toca no canto esquerdo de André Luiz, abrindo a contagem para os visitantes. O Noroeste tenta pressionar e, ocasionalmente, é surpreendido em contragolpes perigosos. Na metade da etapa inicial, o Norusca concentra jogadas em lançamentos para os homens de frente.

E foi assim que o empate chegou. Aos 45, Marcelinho, de novo sobe mais que a zaga visitante, e testa firme para igualar a contagem. “O Marcelinho está muito bem nesse time”, analisa Emerlindo, que, assim como a esposa, é amparado pela neta Viviana e pelo genro Eurico Goto, nos sobes e desces do Alfredão.

O jogador elogiado pelo torcedor, na segunda etapa, quase marca um golaço. Na intermediária, ele corta a zaga e manda um canudo, que passa perto. Logo aos 11, euforia total quando Aidar é derrubado na grande área. O artilheiro Zé Carlos vai para a cal e decreta a virada. Em seguida, porém, o centroavante é expulso, ao levar amarelo quando encobriu o goleiro já com jogo parado, por impedimento.

Ansiosa, Divina sabia que o Norusca tinha um a menos no começo do segundo tempo e não via a hora do tempo passar, a todo instante chamava a atenção do marido, detentor absoluto do rádio, para saber a quantas andava o cronômetro, que passou com o Noroeste podendo ampliar, mesmo com um a menos. O Guará tenta todas as fichas, até mesmo com o goleiro Jaílson em cobrança de falta. André Luís afasta o perigo.

Enquanto a malta alvirrubra encena bela ola no alfredão, o casal espera o fim do jogo, que chega acompanhado de aplausos de pé e muita vibração por parte dos convidados especiais da noite, marcada por troféu simbólico pelo acesso e vice-campeonato da A-2 e pelo cumprimento de uma promessa de uma torcedora que não enxerga, mas viu o resultado muito antes. “Gostei muito, o time ganhou. Está muito bom”, celebra, durante a volta olímpica dos jogadores. “Espero que ano que vem o Noroeste também esteja forte”, projeta Eurico. Veremos em 2011.
Por: Jornal da Cidade

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