Há uma lei da física que diz: um
espaço vazio só pode ser ocupado por um corpo ao mesmo tempo. O nosso glorioso
Noroeste contraria as leis da natureza e seu espaço vazio teima em não encontrar
um corpo ideal. No caso, diretivo. Antes de mais nada, aqui vão os
agradecimentos de todos os noroestinos a Elias Brandão, Álvaro Pedroso e Bruno
Lopes, gente preocupada com o clube, por isso candidatos a presidente. Porém,
encarar uma empreitada desta natureza requer mais, muito mais, do que boa
vontade. Tem de ter lastro na história no clube, capacidade de articular e
mobilizar a cidade e algum conhecimento em gestão desportiva, ainda que baseada
em experiências passadas, já que o futebol em geral teima em viver, às vésperas
da Copa no Brasil, uma espécie de semiprofissionalismo. Exemplo foi a gestão do
Norusca na última década, que terminou abruptamente. Não era para menos. Sobreviveu
do amor e do dinheiro de um homem solitário. Compreender, então, a relação do
Noroeste com Bauru é algo ainda mais desafiador. Fica a dica para um estudante
ou sociólogo pesquisar. Alguns aficionados arriscam dizer que o Noroeste sempre
esteve muito ligado a um setor da cidade, o ferroviário, o que é verdade. Após
várias décadas, com o fim do ciclo das ferrovias, o namoro ficou malparado e
não acabou em casamento feliz. Apesar disso, o clube sobreviveu e, apesar de
não ter contraído matrimônio com ela, sempre esteve ligado à cidade. Uma das
marcas que tornam Bauru referenciada por este mundão afora é o Noroeste. Esta relação
é uma constatação absolutamente empírica, baseada em relatos de pessoas que
viveram a maior parte do século passado. Mas o mistério deste clube se amplia
com ninguém menos do que o maior atleta de todos os tempos no planeta. Há
lendas e histórias dramáticas da relação entre Pelé e o Noroeste. Luciano Dias
Pires que o diga melhor, mas Pelé chegou a jogar pelo Norusca, em uma única partida,
se não me engano em São Paulo, contra o Juventus, na década de 50. Depois, em
um jogo já com a camisa do Santos, em Bauru, teria sido hostilizado pela
torcida noroestina quando seu time perdia por 3 a 0. Enfurecido, no segundo
tempo comandou a virada por 5 a 3, ou algum placar tão parecido quanto
elástico. A parte feliz desta história é a passagem de Pelé pelo Bauru Atlético
Clube (BAC). Foi o que ficou para a história. O mundo reconhece: foi no BAC que
Pelé começou a jogar. O Noroeste ficou de patinho feio na manjedoura do rei. Viram?!
É muita tristeza. Por que há de ser sempre assim? Parece que drama e Norusca
são indissociáveis. Claro, drama em futebol não tem a mesma importância de
tantos dramas que vivemos ou vemos diariamente pelo jornal, rádio, TV ou
internet. Mas que faz muita gente sofrer, faz. Vejam o Reynaldo Grillo, que
mora em New Jersey (EUA) há um tempão. Ao invés de assistir ao fenomenal
basquete norte-americano ou ir passear na Disneylândia, fica ouvindo os jogos
do Noroeste contra times inexpressivos, sofrendo à distância, religiosamente. Em
todo caso, o sofrimento tem seu lado bom e útil. Segundo a filosofia budista,
quando sofremos temos sentimentos de renúncia e esgotamento com as coisas
mundanas. A arrogância é colocada para fora de nossas mentes. Graças ao nosso
próprio sofrimento, podemos vivenciar compaixão ilimitada. É disso que o
Norusca precisa agora.
João Jabbour