Aqueles que, como eu, estavam sofrendo de abstinência de futebol festejam o começo do Campeonato Paulista, programado para amanhã. O pontapé inicial da disputa é ainda mais aguardado por quem teve de passar por outro tipo de privação: o de vitórias. O Paulistão é a competição ideal para que clubes grandes em crise alcancem bons resultados e façam as pazes com a torcida.
Nada melhor do que enfrentar equipes do interior cada vez mais inofensivas, com menos dinheiro, montadas em cima da hora e sem grandes aspirações. E disputar 19 rodadas sabendo que a classificação estará garantida, por mais modesta que venha a ser a campanha.
O Paulistão, infelizmente, se tornou já há bastante tempo um jogo de ilusões, um torneio que obscurece a realidade. No ano passado, o São Paulo passeou na primeira fase e obteve goleadas como 4 a 0 contra o Bragantino e 4 a 1 diante do Noroeste. O Palmeiras fez 3 a 0 em Linense e Bragantino, apenas para destacar algumas vitórias fáceis. Os dois caíram de forma vexatória da Copa do Brasil e saíram da briga pelo título do Brasileirão precocemente - não conseguiram nem vaga na Libertadores.
Ao contrário do que ocorria em décadas passadas, o Estadual de São Paulo deixou de ser parâmetro.
Lembro-me bem de um União São João 3 x 2 São Paulo, em Araras, em 3 de fevereiro de 1994, menos de dois meses depois de os são-paulinos terem conquistado o título mundial em triunfo contra o Milan. Ganhar no interior não costumava ser tarefa simples. Os "pequenos" investiam nos jovens, revelavam jogadores e tinham bons patrocinadores. Hoje encolheram demais, tornaram-se reféns de empresários, desistiram de apostar na base, vivem mergulhados em dívidas e passaram a ser presas fáceis.
Não representa nada ganhar 13 ou 14 partidas na primeira fase do Paulistão. Os jogos realmente competitivos são os clássicos. É claro que, como sempre, um ou outro time do interior pode incomodar. Equipes como Corinthians e Santos, que darão prioridade à Libertadores, certamente vão utilizar reservas em várias rodadas e poderão ter um pouco de dificuldade. Nada, no entanto, ameaça a classificação dos integrantes do chamado Trio de Ferro (mesmo o Palmeiras, o mais fraco dos três) e do atual campeão estadual.
O regulamento faz do decadente Paulistão um torneio ainda mais insosso. A realização de 19 rodadas para que oito participantes se classifiquem acaba com qualquer emoção da tediosa primeira fase. A disputa para os quatro favoritos começará, de fato, na segunda quinzena de abril, dentro de três meses, tempo suficiente, por exemplo, para a realização de três edições de Copa do Mundo ou cinco de Olimpíada.
O campeonato é charmoso e tradicional, mas precisa ser remodelado. Caso contrário, continuará sendo apenas um palco para treinamento das equipes principais e um quebra-galho do torcedor, à espera de competições melhores e mais vibrantes.
Eduardo
Maluf /O Estado de São Paulo