NOROESTE EM CAMPO, DENTRO E FORA DELE – O TIME E SUA TORCIDA



Tem início no dia de hoje a saga noroestina na 2º divisão do futebol paulista, numa nova fase, essa agora das chamadas “vacas magras”, sem o beneplácito da família Garcia, mecenas do time durante mais de dez anos. O que chamou a atenção na saída do grupo da família Garcia foi que o clube, após injeção ininterrupta de capital, foi deixado meio que a “deus dará” e algo de mais estranho com patrocinadores sendo anunciados, um deles a Mariflex, mas esse se limita a comprar parte dos direitos do melhor jogador do grupo vencedor do ano passado, o goleiro Válter, por uma bagatela e depois sumiram do circuito noroestino, junto do até então regente do Conselho Deliberativo. Hoje, nem sei se a Kalunga e a Mariflex contribuem com algo e se não o fazem, deveriam ser cobrados, pois promessas houveram e foram registradas pela imprensa local. O time foi montado na antiga fórmula, a do “faz o que se pode”, um técnico de renome foi buscado, Seixas e pelo que deu para perceber observando o que a imprensa filtrava desse novo momento, parece que algo de valor foi buscado, com poucos recursos, salários sendo fixados num limite máximo de R$ 3.500 reais mês. Quem assistiu os jogos treinos afirma que o time vai dar trabalho e que a união do grupo será primordial para se conseguir algo. Torço por isso e hoje é o dia. Começamos essa saga num jogo entre velhos times a participar desses torneios paulistas. O jogo será contra o Juventus, no seu campo, o da rua Javari, na Móoca paulistana, um local bucólico, resquício de campos pequeninos, nostálgicos e o horário no meio da tarde de hoje, pois o estádio não possui iluminação.

Após esse breve relato do que posso escrever sobre o momento atual, sem grandes informações sobre os bastidores do time, escrevo algo mais sobre algo que gosto de vivenciar, o momento vivido pela torcida “Sangue Rubro”. Sempre fui avesso a esse negócio de torcida organizada e mais ainda após ver o que ia ocorrendo com algumas dos grandes times. Aberrações e violência. Capitulei e virei sócio da Sangue. Ali vivencio um outro lado dessa moeda. Não vejo violência no que já vivenciei de experiências com o pessoal dessa torcida. Existe um algo a mais ali, tornando-a diferenciada, tanto no trato do ser humano, como no trato com o time. Paixão existe e muita, mas as relações humanas entre seus pares e para com os demais, os torcedores de outros time e outras torcidas é algo que deve ser analisado como um diferencial. Existe um entendimento saudável e prazeroso dos seus integrantes com algumas outras torcidas. Sim, concordo que isso é um mínimo necessário, mas como sei não existir esse bom relacionamento analisando o que geralmente existe por aí, essa nossa, da qual faço parte, expõe uma real possibilidade de congraçamento inexistente em outros locais.

Relato aqui o que vivencie dia 06/01, um domingo, quando o Noroeste fez sua estréia na Copinha Paulista, equipe sub-20 , jogo contra o Atlético MG, marcado para às 19h no campo do Linense, 100 km de Bauru. A Sangue fretou um ônibus e viajei com eles até Lins naquela tarde, encontro marcado para a sede da torcida,17h, duas horas antes da contenda. Com um pequeno atraso e Pavanelo, o manager da torcida, sempre com sua prancheta na mão, irado com os que reservavam lugar e na hora H não apareciam. Havia uma pequena lista de espera, mas viajamos com umas poucas poltronas vagas. No ônibus uma divisão interessante dos torcedores. Na parte da frente os torcedores mais velhos, como eu, mais comedidos e no fundo os mais jovens, alegres, extrovertidos, barulhentos, como todos os da frente já o foram um dia. Dentre todos algo também sui generis dessa torcida, a Comando Feminino, com aproximadamente umas 12 mulheres. Respeito absoluto, norma estatutária, seguida à risca. Os integrantes da torcida na verdade protegem as meninas e confesso, sou um torcedor da velha guarda, mas nunca vi algo como hoje, um agrupamento crescente de mulheres torcedoras, tão aguerridas quanto os homens. Da viagem nenhum senão, tudo dentro dos conformes. Jovem tem mesmo que por para fora o seu ímpeto e o fizeram de forma que um lado entendia o do outro. Dentro do estádio, uma recepção primorosa da torcida organizada do Linense. Quando chegamos eles havia ganho a preliminar por 5x1 do São José e cederam lugar para nós, tanto na parte coberta do estádio, fazendo questão de retirar todas suas faixas no alambrado, para que a Sangue pudesse fixar as suas. Já vi ali o algo novo, uma integração possível e saudável. Isso perdurou durante todo o jogo. O único senão poderia ter sido evitado, quando alguns mais jovens se indispuseram não com os torcedores da casa, mas contra alguns mineiros, que com a camisa do adversário e num grupo de não mais seis pessoas, gritavam loas ao seu time e alguns dos nossos se disseram insultados. Tudo apaziguado, o que vivenciei foram momentos de boa convivência. A Sangue hoje se organiza até para torcer pelo Noroeste em jogos treinos, em jogos dos sub 20 e 17. Isso mostra um denodo amoroso e intenso, uma organização crescente (já são 25 anos de existência), tornando-a objeto de estudo, tanto pela forma tolerante, conseguindo manter uma união plausível e saudável entre seus membros. Promovem festas e eventos variados, buscando a sobrevivência e manutenção de uma sede, compra de materiais, como instrumentos musicais e as viagens acompanhando o time do coração. Escrevo sobre o Noroeste e essa torcida com muito orgulho, pois fazem a minha cabeça. Das muitas diretorias que comandaram o time, nem tanto, senões existem aqui e ali. Analisar cada um deles é um desgaste, pois nunca foi muito revelador o que se passou nos seus bastidores, ficando sempre uma incógnita no ar. Sem subsídios para analisar friamente esse lado sempre oculto, faltando meros balancetes dos últimos tempos (quase obrigatórios, diria), favorecem as críticas contrárias. O fato é que hoje, aos “trancos e barrancos”, o time entra em campo e com ele a Sangue estará em São Paulo, mostrando ser hoje uma das mais organizadas do interior paulista. Por fim deixo para a atual diretoria do time uma idéia: Por que não se espelham no que ocorre na organização da torcida, implantando algo nesse sentido na organização e funcionamento de sua parte administrativa?
OBS.: Fotos todas minhas. Não se assustem, o torcedor deitado não é briga e sim, uma pequena dormidinha durante o jogo, excesso de festa na vinda. Tudo sanado no regresso.
 
Henrique Perazzi de Aquino, diretamente do Mafuá do HPA

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