Noroeste vence e conquista o bicampeonato




“Precisa responder?”, questiona o jovem torcedor Pietro Franco após a vitória do Noroeste por 1 a 0 ontem de manhã, em São Paulo. A pergunta deste repórter realmente soava como heresia. Claro que a viagem foi recompensada.

O time bauruense havia acabado de conquistar o bicampeonato da Copa Paulista ao derrotar o Audax.

E olhe que a equipe nem precisava vencer ontem para conquistar a segunda taça do torneio – ergueu o caneco também em 2005. Na primeira partida, em Bauru, o Noroeste saiu na frente por 2 a 1 e bastava o empate. Mas a recuperação noroestina não estaria completa caso o título viesse com um empate. O time que começou desacreditado e com atuações irregulares transformou-se  num dos mais equilibrados e guerreiros da história recente do Noroeste. Se na primeira fase havia até questionamentos com relação a alguns jogadores, hoje a torcida lamenta que muitos deles receberam propostas melhores para sair.

“Eu vim para cá para isso [recuperar a carreira]. Mesmo com o rebaixamento no primeiro semestre o pessoal gostou do meu trabalho. Mas não quero lembrar o passado”, disse o goleiro Walter, que foi rebaixado com o XV de Jaú para a quarta divisão paulista e foi um dos heróis da conquista. 

Outro que será eternizado nas lembranças será o atacante Diogo, autor do gol do título. Ele também chegou em Bauru na Copa Paulista em busca de um renascimento. Após uma fraca campanha na Santacruzense na A-2, ele começou muito contestado no Noroeste e conseguiu dar a volta por cima ao chutar forte no ângulo aos 20min do segundo tempo e garantir o troféu. “É um sentimento maravilhoso receber essa benção na final. É a primeira vez que isso acontece comigo”, comentou o herói de ontem.

Não faltaram candidatos a herói para o Noroeste. Roberto teve sua chance logo aos 4min, quando Mizael cruzou, mas o centroavante escorregou e desperdiçou ótima oportunidade para abrir o placar. Poderia também ser o meia Gilsinho, que chutou forte na entrada da área e o goleiro Sidão espalmou.

O Audax foi equilibrar a partida apenas no fim da primeira etapa. Na melhor chance deles, aos 37min do primeiro tempo, Francis fez jogada individual, mas Walter conseguiu espalmar e impedir o gol adversário. No segundo tempo o time da Capital paulista começou assustando, mas quando Diogo invadiu a área e chutou forte, aos 20min, e aumentou a vantagem noroestina, o Audax não conseguiu mais jogar. 

Depois disso, o time desperdiçou chances com Daniel Grando e Velicka, mas não fez falta.  A fênix noroestina já estava batendo as asas para a taça.

Sete anos em cinco horas de viagem

Foram mais de cinco horas de viagem. Mas é pouco, bem pouco perto dos sete anos de espera que a torcida do Noroeste teve para soltar o grito de “é campeão” novamente. E, para fazer um coro maior até mesmo do que dos torcedores do Audax, a torcida organizada Sangue Rubro contou com o apoio de outros “irmãos” da família interior.

Torcedores organizados do São Bento de Sorocaba, do Barueri, do Santo André e até mesmo um ônibus da torcida Nação Vermelha e Branca do Noroeste, da Vila Formosa, time de futebol amador de São Paulo, estiveram presentes nas arquibancadas do estádio Nicolau Alayon ontem de manhã. Ao todo, cerca de 500 noroestinos fizeram a festa após o apito final do árbitro. Só daqui de Bauru foram cinco ônibus que os torcedores conseguiram alugar.

“Pedimos esse apoio para vir em peso aqui e ajudar os jogadores a conquistar esse título. Saímos cedo lá de Bauru, encaramos essa viagem... tudo para soltar este grito que estava engasgado na nossa garganta desde 2005”, comentou Vitor Vieira, presidente da torcida Sangue Rubro. No fim, além do título, eles foram recompensados pela atenção dos jogadores. Muitos deles jogaram suas camisas para a torcida presente. Eles também fizeram questão de comemorar perto do alambrado onde estavam os torcedores de Bauru.

‘Fica, Moisés’, gritou a torcida alvirrubra presente em São Paulo

Quando Moisés Egert assumiu o Noroeste, em setembro deste ano, a situação da equipe na Copa Paulista assustava: o time acumulava atuações irregulares e corria sérios riscos de ser eliminado na primeira fase da competição. Três meses depois, seu trabalho foi tão aclamado que ele até mesmo está de saída para a Série A-1.

Hoje, ele, o preparador físico Robert Yoshio e o auxiliar técnico Luciano Deitos se apresentam à União Barbarense, que inicia o planejamento para a primeira divisão paulista. Uma proposta irrecusável que o Noroeste, numa situação financeira incerta, não conseguiu igualar.

Mas é claro que foi aqui em Bauru que Moisés Egert conseguiu atingir esse status. Após um início de ano ruim, com duas demissões (XV de Piracicaba e Rio Branco), ele foi o principal responsável não só por fazer a arrancada noroestina na Copa Paulista, como também manter a motivação do elenco após as saídas do presidente Damião Garcia e do vice João Paulo no fim de setembro. “Este ano começou muito ruim com duas demissões que vejo injustas. Tive até vontade de encerrar minha curta carreira no futebol porque vi coisas que me deixam com nojo. Fiquei muito triste. Mas o que faz valer a pena é isso e ter a chance de trabalhar num grupo fantástico como esse”, afirmou o treinador no fim da partida.

E além de ganhar sua medalha, ele teve outro tipo de reconhecimento, talvez até mais importante. A torcida noroestina, conhecida por sua curta paciência com os treinadores, se aglomerou e pediu para ele continuar em Bauru. “Fica, Moisés”, era o que mais se ouvia depois da entrega da taça. “É gratificante isso”, concluiu Moisés, que se despede com 14 jogos, seis vitórias, sete empates, uma derrota e o título.

Festa do título tem despedida e ‘ode a Damião Garcia’

O clima era de alegria. Todos os jogadores e funcionários queriam tirar fotos com a taça da Copa Paulista até que, em certo momento, o lateral esquerdo Ralph, o mais animado entre os jogadores, começou a entoar gritos de “Volta Damião” que logo tomaram conta do restaurante onde o Noroeste almoçou para comemorar o título da Copa Paulista.

Todos os jogadores participaram da brincadeira, que logo se transformou numa das atitudes de agradecimento do elenco à família Garcia, que na figura do empresário Damião Garcia, foi a principal mantenedora do clube nos últimos dez anos.

Nem mesmo a renúncia inesperada de Damião do cargo de presidente e do seu neto João Paulo de vice diminuíram o carinho da diretoria e jogadores com o clã Garcia e a Kalunga. Muito pelo contrário.

Por problemas de saúde, Damião Garcia não pôde estar presente na festa. Mas seu filho Paulo Garcia, o neto João Paulo e o consultor executivo Beto Souza estiveram presentes até mesmo na partida, onde conversaram com os atletas antes do jogo e participaram de toda a premiação. E fizeram questão de estarem presentes na festa do título.

O momento de maior emoção foi quando o zagueiro Samuel reuniu todos os jogadores e falou para os dois membros da família Garcia da importância deles para o Noroeste e quis agradecer pessoalmente por tudo o que eles fizeram no Noroeste nos últimos dez anos. Falando em nome dos atletas, Samuel afirmou que o Noroeste se transformou numa família por conta disso e pediu para que eles continuassem por mais algum tempo.

“Toda história tem um começo, meio e fim”, limitou-se a dizer Paulo Garcia, que deixou no ar a possibilidade de continuar como patrocinador.

“A alegria que vocês estão sentindo também nos proporcionaram hoje [ontem]”, completou João Paulo.

Outro personagem que foi bastante requisitado pelos jogadores na festa foi o técnico Moisés Egert. Praticamente todos quiseram tirar uma foto com ele ao lado da taça.

Entretanto, com ele nem havia oportunidade de pedir que continuasse. Moisés já está com contrato com a União Barbarense para a A-1 e a celebração do título terminou, quem diria, com algumas despedidas da comissão técnica com os funcionários e a imprensa presente.

Mas antes dele ir para Santa Bárbara D'Oeste, ainda deu tempo de Moisés, comissão técnica e jogadores participarem da última etapa da festa do título da Copa Paulista. Era fim de tarde em Bauru quando o ônibus da equipe chegou na avenida Getúlio Vargas e os atletas desfilaram no caminhão do Corpo de Bombeiros pelas ruas de Bauru.

Alvirrubro tem previsão de futuro mais tranquilo
No mesmo dia que conquistou a Copa Paulista, Noroeste vê empresário Toninho Alencar oficializar chapa para a presidência e Kalunga pode ficar

Ainda estava no intervalo da final de ontem, quando o futuro do Noroeste ganhou um contorno mais concreto para os próximos meses. O empresário Toninho Alencar, da Mariflex, nem esperou a confirmação do título da Copa Paulista para anunciar sua candidatura à presidência do clube.

Ele resolveu assistir à partida na arquibancada, ao lado dos torcedores da Sangue Rubro, em vez de ficar no camarote do estádio Nicolau Alayon ao lado de Toninho Gimenez, do consultor Beto Souza, de Paulo Garcia e seu filho João Paulo.

Tudo para sentir o calor de uma torcida tão tradicional quanto o time. “Hoje eu já posso falar com todas as letras que sou candidato à presidência do Noroeste. Vamos formalizar uma chapa para concorrer e também quero tentar acertar a extensão do patrocínio da Kalunga para o próximo ano”, comentou o empresário no intervalo da partida ao repórter Jota Martins, da 87FM.

O futuro do Noroeste depende, e muito, da continuação da Kalunga, pelo menos como patrocinadora master da camisa e o repasse num valor de R$ 50 a R$ 70 mil mensais aos cofres do clube. Só assim a conta estimada em R$ 150 mil para o próximo ano será fechada, segundo o presidente em exercício, Toninho Gimenez.

Ele garantiu que R$ 60 mil já foram captados para a próxima temporada e que corre atrás de mais, só que para chegar nesse valor apenas com a Kalunga.

A definição pode acontecer hoje, já que Paulo Garcia terá uma conversa com seu irmão, Beto, sobre o patrocínio da empresa do ramo gráfico ao time.

“Tenho falado com o Paulo e é quase certeza que eles continuarão. Não vão nos abandonar. Só falta o ‘OK’ deles para fechar essa conta. Acho que até segunda [hoje] teremos essa definição”, afirmou Toninho Gimenez. “Eu vou conversar com o Beto e o Paulo. O clube terá algumas mudanças e quero ver a filosofia de trabalho do Noroeste”, garantiu o empresário, filho de Damião e visivelmente emocionado ontem.

Em todo caso, as eleições estão marcadas para o dia 4 de dezembro, onde Toninho Alencar deve ser aclamado como novo presidente noroestino para os próximos dois anos. A partir daí, ele já será responsável por remontar o elenco campeão que, além do treinador, deve perder vários atletas. Velicka interessa ao Audax, Walter e Johnnattan ao União Barbarense e vários outros jogadores que estão em término de contrato.

O primeiro passo, inclusive, parece que já foi dado. O técnico Moisés Egert adiantou que Luciano Sato, técnico do sub-20, deve ser alçado ao time profissional para 2013. “Esta foi minha última partida, mas já está quase certo que o Luciano Sato assuma o time”, disse o agora ex-noroestino. 

Gustavo Longo/ Bom Dia Bauru

Postar um comentário