Por todo o interior do Brasil, torcidas apaixonadas apoiam seus times |
Nas
discussões com os amigos, ouvia sempre:
- Meu time
foi três vezes Campeão Mundial!
- O meu foi
campeão invicto da Libertadores.
Silvério
ficava calado. As vezes discursava sobre tradição e orgulho da cidade, mas tudo
em vão. Na maioria das vezes todos caíam na risada.
Quando os
times da capital vinha à sua cidade, ele fazia questão de desfilar com a
camiseta alvi-rubra do seu time querido. Os amigos riam e provocavam:
- Esse seu
timeco vai ser goleado!
Talvez
fosse mesmo. Mas não importava. Fazendo sol ou chuva, lá estava ele trajado,
com o bandeirão nos braços.
Certa vez,
Silvério combinou de ir ao estádio com seus amigos ver seu pequeno time
enfrentar um dos gigantes da capital. Assim como o velho torcedor, o time
parecia estar inspirado. Apesar do gol – golzinho xoxo, como ele descreveu –
aos 15 minutos do primeiro tempo, o pequeno time não deixou-se abater. Foi pra
cima, lutou até o último minuto. Conseguiu o empate sofrido numa falta no fim
do jogo, quando ninguém mais acreditava ser possível.
Quando o
árbitro apontou o meio de campo, Silvério enloqueceu. Pulou e chorou como se
esse jogo valesse o campeonato. Os amigos assistiam aquilo e riam, desmerecendo
a vitória suada.
Depois da
partida, eles foram para o bar. Silvério não cabia dentro de si. Foi quando um
dos amigos, torcedor do time da capital, soltou a tão usada desculpa.
- Time
safado esse! Não jogou nada. Merecia ter
perdido. Empate foi lucro!
Silvério,
com um sorriso estampado no rosto, falou:
- Essa é a
diferença entre nossos times… O meu joga sempre pela vitória. Não temos Neymar
nem Lucas, mas jogamos diferente. Como cifras milionárias não aparecem por
aqui, o amor pela camisa é o que motiva. Nós temos um time, não uma
constelação de maricas.
Nos dias
depois desse, o apaixonado torcedor continuou vibrando nas arquibancadas. Seu
time continuou pequeno, sem títulos ou contratos milionários. Os amigos
continuavam a falar sobre títulos e transações com a Europa. Mas Silvério
continuava preferindo o bom e velho amor ao futebol.
José
Guilherme Magalhães/ estudante de jornalismo da UNESP
(Foto: Cristiano Zannardi)
(Foto: Cristiano Zannardi)