Zeola, o herói menino

Então com 18 anos, bauruense marcou os dois gols do primeiro acesso do Noroeste há 58 anos

“Eu era o menino de ouro, o craque favorito da torcida bauruense.” Assim, Agostinho Zeola, ou simplesmente Zeola, como ficou gravado seu nome na história do Noroeste lembra os dias em que brilhou com a camisa alvirrubra, tendo seu momento culminante defendendo o Norusca na partida diante do Marília, que valeu o acesso, o primeiro do clube bauruense, à primeira divisão no dia 23 de maio de 1954. A tarde foi perfeita para o então garoto Zeola, que tinha 18 anos, marcou os dois gols sobre o arquirrival e se tornou o herói da conquista. “Este foi o meu principal jogo pelo Noroeste. A gente era menino, tudo era alegria, tudo era bonito e bom”, recorda.

Zeola descreve os lances de seus gols contra o Marília, que ratificaram o acesso alvirrubro, em um hexagonal, que teve ainda o América, Paulista, Ferroviária e Bragantino. “No primeiro gol, o Colombo foi à linha de fundo, cruzou e eu, na entrada da grande área, peguei de bate-pronto e a bola entrou lá em cima. No segundo, o Luiz Marini cruzou do outro lado e a mesma coisa. Antecipei a zaga e fiz os dois gols. Foi memorável este jogo”, relata. “Marquei os dois gols e, depois, teve aquela festança. Fomos para o Bar Cristal, onde, naquela época, era o foco. Descemos a pé para o Bar Cristal e a festa varou a noite”, relembra Zeola.

Em um clube recheado de craques, coube ao jovem Zeola, bauruense, identificado com a cidade, a torcida e o clube, ser o homem decisivo. Zeola considera que o jogo foi fundamental para projetá-lo na carreira. “Você nem imagina a euforia, a satisfação, principalmente fazendo os gols. Eu, de Bauru, fazendo os dois gols. Todos os jogadores eram de fora, o único de Bauru era eu. Para a torcida, foi uma alegria imensa e, para mim, foi maravilhoso. Foi onde minha carreira engrenou. Foi o início de minha carreira”, aponta.

Zeola conta que o clima para a partida era influenciado pelos incidentes do jogo de ida, em Marília, quando houve confusão. “O ambiente era favorável ao Noroeste. No jogo de ida, teve briga lá, incendiaram o campo, queimaram o juiz e vieram com medo aqui. Não houve nada, ninguém pôs a mão em ninguém, ganhamos o jogo na bola, na boa, jogando futebol”, destaca. O artilheiro do acesso faz questão de exaltar a qualidade dos companheiros de equipe. “O time do Noroeste era bom. Modéstia à parte, acho que foi um dos melhores times que o Noroeste teve”, elogia. “O Ranulfo e Nélson Faria faziam o time andar. Andar não, correr”, brinca.

Após marcar os gols do acesso, Zeola não disputou a última partida do hexagonal final, contra o Bragantino, porque seguiu para a Capital como reforço do São Paulo. No Tricolor, Zeola permaneceu por dois meses, onde jogou um Torneio Rio-São Paulo. Após isso, voltou para o Noroeste e foi para o Juventus. Dali, seguiu para a Itália para atuar no Napoli por mais de um ano. Terminado o contrato com o time italiano, retornou à Mooca, onde ficou um ano. De lá, transferiu-se para o Palmeiras, que defendeu por dois anos, antes de ser contratado pelo Independiente, da Argentina, equipe pela qual disputou a Libertadores de 1964.

Trajetória
Da esquerda para a direita, em pé:Nelson Faria, Mingão, Amaro, Sidney, Zulu e Vila. Abaixados:Colombo, Zeola, Brotero, Ranulfo e Luiz Marini
Uma breve busca pelos arquivos da FPF, contata-se que o título conquistado no dia 23 de maio de 1954 (há exatos 58 anos), equivale ao campeonato de 1953. Coube ao Noroeste, em campanha brilhante, repetir o feito de XV de Piracicaba (1947 e 48), Guarani (1949), Radium (1950), XV de Jaú (1951) e Linense (1952), garantindo o passaporte para a divisão especial de São Paulo.

O Noroeste se classificou para a segunda e última fase do torneio com 15 pontos, em primeiro, seguido pelo Marília, com 12 – na época, a vitória valia dois pontos. A fase final contava com os dois melhores times de cada um dos três grupos (módulo Azul, Verde e Amarelo – as cores da Bandeira Nacional), no caso, Noroeste, Marília, América, Bragantino, Paulista e Ferroviária, e o regulamento era o mesmo: todos jogavam entre si em turno e returno, só que desta vez, apenas o primeiro colocado garantia vaga para o estadual de elite na temporada seguinte.

Morte na concentração
Antes da vitória sobre o Marília e da festa pelo acesso, o Noroeste viveu um momento de tristeza na campanha vitoriosa, ainda no primeiro turno: a morte súbita do técnico José Pavesi, o Pepino, em plena concentração. “O time estava concentrado lá na Quintino Bocaiúva, onde era o campo. Ele estava sentado em uma cadeira, todos os jogadores em volta. Daí a pouco, caiu. Morreu ali, antes do jogo contra o Bragantino. Aí, o time continuou sem técnico e ganhamos de 1 a 0, com um gol contra deles”, narra Zeola.
Wagner Teodoro/ Jornal da Cidade

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