Ontem, 03/03, como faço regularmente estive no Alfredo de Castilho e
presenciei um jogo indescritível, não pela sua beleza plástica, mas pelo
inusitado do presenciado. Com um primeiro tempo desses de babar na
fronha, debaixo de uma intermitente garoa (logo transformada em chuva),
fizemos 3 x 0 e logo no começo do segundo tempo, na estiagem da água,
tudo estava empatado. Um torcedor no meio da Sangue Rubro quase enfartou
e outro foi obrigado a saltar o alambrado para avisar o pessoal da
ambulância do ocorrido. No retorno da chuva, voltou a inspiração do time
e fizemos mais dois gols. O maná dos céus foi mais do que providencial.
Jogo igual a esse me recordo de outro, um contra o Botafogo de
Ribeirão, quando perdíamos de três e viramos para cinco. Mas não é nos
elogios que termino essa escrita.
No intervalo do jogo, o grosso dos torcedores havia insistido junto aos porteiros da
tribuna
coberta pela liberação do espaço, pois chovia e tudo ali estava um
tanto vazio. Nada foi resolvido. “No tempo do Jóia existia
sensibilidade. Ele é daqui, sabia como lidar com o povo bauruense”,
disse um. Um portão da tribuna foi cercado por torcedores e nada da
liberação vir do dirigente Evaldo Armani (com esse nome, para mim, só um
famoso perfume, nada mais), mais preocupado em paparicar os atuais
donos do time, recém-chegados da capital de helicóptero. Formou-se um
bolo num dos portões e outra justificativa, essa abominável: “O Noroeste
pode ser punido se abrir os portões. Seguimos determinações da
Federação”. Jogo no interior, tradicionalmente os portões da parte
coberta são abertos quando chove. Isso é interior, um modo caipira de
torcer e acompanhar seu time. E o estádio tem a cara da ferrovia, dos
ferroviários que o levantaram. Nada disso parece ser entendível por
dirigentes ligados somente ao novo modo de tocar futebol, quando o
torcedor é o que menos importa. Na confusão, felizmente ficou comprovado
mais uma vez que o povo desconhece a sua força e q
uando
faz uso dela, tem sua vontade atendida, queiram ou não os a deter a
posse das tramelas e cadeados de portões. Adoro ver o povo em ação e com
o aperto da
chuva, num momento de distração do porteiro ao afrouxar o trinco para
deixar entrar um vendedor de produtos, a invasão ocorre e daí para
frente não pode mais ser contida. Uma linda enxurrada humana invade a
parte coberta e prova que o povo pode muito quando unido. Confesso que
estava na turba humana, junto de Aldo Wellicham e outros 500 que vieram a
seguir. Uma linda demonstração de que nada contém o desejo popular e
que a insanidade e insensibilidade pode e deve ser contida dessa forma.
Não sendo ouvidos, eis a solução para nossos problemas. E todos puderam
ver o Noroeste enfiar cinco no time do “revigorante aos incapacitados
sexuais”, o Red Bull. O brilho da noite foi ver o time em campo e o povo
em ação. Nessa noite o povo noroestino venceu o monstrengo manipulador
sendo montado em seus bastidores. Será que “eles” entenderam a mensagem?
OBS: As fotos do caso 3
são minhas. Nas duas primeiras, um molhado Baiano vibra com o time, na
outra um gozador torcedor com um boné do Red Bull, o portão onde os
torcedores fizeram valer a sua força contra a intolerância, o torcedor
que veio com uma camisinha a envolver seu radinho de pilha e a última do
pessoal do Jornada Esportiva, vistos pelo buraco nas cabines.
Henrique
Perazzi de Aquino, diretamente do Mafuá do HPA