“FUTEBOL”, de HÉLIO SUSSEKIND
Tenho muitos livros aqui no mafuá com o tema FUTEBOL e de um deles reproduzo suas frases aqui. Trata-se do(jornalista
carioca), escrito para a coleção ARENAS DO RIO, publicado pela editora
Relume Dumará, 2000, 112 páginas. Como hoje quero escrevinhar mais de
futebol, as frases antecipam meu derradeiro escrito:
-
“Por que os clubes não pensam de fato em instituir uma Liga
Independente, gerida por profissionais competentes e capaz de reverter a
seus cofres o produto da riqueza que geram? Por que não arcara com as
represálias das entidades, enfrentando-as de uma vez? Os clubes
brasileiros são hamlets que não tem coragem de matar aqueles que os
envenenam ano após ano. Essa impotência é a chave para compreender o
declínio de público do futebol”, pág. 60.
- “O rádio contribui imensamente para estimular o consumo do futebol, dos grandes
jogadores e dos clubes. A cobertura diária aproxima o torcedor do seu
clube, faz do dia-a-dia das instituições-mito um fato que precisa ser
acompanhando. Com maior riqueza de detalhes do que os jornais, o rádio
informa sobre a contusão do craque, sobre novas contratações, sobre os
treinamentos da semana. No rádio o torcedor ouve seu ídolo e acompanha a
preparação para os grandes jogos. O jogo de final de semana cresce em
importância, o torcedor sabe que tomará parte de algo efetivamente
relevante. (...) O rádio sempre foi no Brasil, o principal veículo de
popularização do esporte. É possível que tenha chegado o momento de
renovar a linguagem e de formar profissionais capazes de imprimir o
sopro de vitalidade imposto por locutores antigos e de muita fama. (...)
Só uma nova revolução poderá contribuir para dar um novo impulso ao futebol e preservar o rádio na competição que se avizinha com a expansão das TVs por assinatura”, pág. 80.
-
“O torcedor precisa, em cada momento, de mitos de carne e osso para
comparecer aos estádios. Sua migração afasta a torcida. Quando o clube
se desfaz de um grande jogador sabe que o torcedor desertará nos
próximos jogos, nos próximos anos, se não houver uma reposição à
altura”, pág. 81.
- “É preciso ter em mente que a paixão pelo futebol
estará, sempre, vinculada a uma história que lhe é anterior em cada
momento. E é justamente esta história que precisa reescrever a cada
jogo, a cada decisão, convertendo o presente em passado. Num passado
glorioso, único, que será recontado adiante, que ficará para sempre inscrito na história das instiuições-mito”, pág. 82.
-
“O torcedor não espera nem nunca esperou por justiça. As regras do
futebol são claras, não há dúvida. Mas sua interpretação pelo juiz é
sempre alvo de controvérsias e suscita o sentimento da injustiça e da
espoliação. Não há nenhuma magia ligada ao futebol que faça com que dele
brote o que não existe no corpo social. Enquanto houver injustiça,
desequilíbrio, violência fora dos estádios haverá injustiça,
desequilíbrio e violência em seu interior”, pág. 95.
Reproduzi
isso hoje, porque acabo de voltar de um campo de futebol, onde meu time
do coração, o ESPORTE CLUBE NOROESTE ganhou de 3x2, num jogo fácil que
se tornou difícil, do Velo Clube de Rio Claro, pela 2º Rodada do
Paulista – Segunda Divisão 2012. O jogo em si, quem fizeram os gols,
quem foi o juiz, o técnico é o que menos importa nesse momento, onde
escrevo para reverenciar um acontecimento de Bauru, numa manhã de
domingo, 10h, quando 1200 pessoas saem de suas casas e vão para um
estádio em busca de uma forma de lazer.
Fiz isso e reverencio os
amigos lá reencontrados numa agradável manhã. Primeiro Aldo Wellicham e
Roque Ferreira, que foram comigo, dividimos histórias, refletimos sobre o
passado e o futuro, enfrentamos uma longa fila juntos na entrada e
pulamos juntos em alguns dos gols. Depois, os que de nós foram se
aproximando, como o Batista, um amigo de longa data, vendedor de
assinaturas de revistas (viaja o país inteiro), o jornalista Bruno
Mestrinelli, o primo Eduardo Lopes e Chico Cardoso,
o artesão do Gasparini. O primeiro tempo foi passado ao lado desses. No
intervalo revi meu primo Beto Grandini e Carrijo, quando ambos
aproveitaram a deixa para me convidarem a sair no carnaval de Bauru,
junto ao Bloco Pé de Varsa. O gostoso é ir trombando com as pessoas,
para uma conversa rápida, um diálogo noroestino, dentre os poucos pontos
de vista em comum existentes entre as pessoas nos dias de hoje. Um
segundo tempo junto da Sangue Rubro e todo ele ao lado de Geraldo
Bergamo e ouvindo as histórias de um autêntico noroestino e comerciante
do estádio, o Uau-Uau (veja a história a encerrar esse post). Quase
perdemos, quase tivemos nosso almoço estragado, quase saímos
cabisbaixos, quase..., mas ganhamos e muitos estarão novamente juntos
daqui a alguns dias.
UM LIVRO SOBRE FUTEBOL, O JOGO DE HOJE E A HISTÓRIA DE UM ABNEGADO TORCEDOR
A HISTÓRIA DO UAU-UAU: Ele é um pequeno
comerciante, vendedor de lanche em barracas, uma no estádio, outra fixa
na praça Rui Barbosa e outra itinerante em feiras, exposições, shows e
afins. Tem uma singularidade na vida: pegou um amor de doer pelo
Noroeste, virou um dos seus torcedores símbolo. Perde um jogo só em caso
de força maior. Deixa o trabalho nas mãos de outros para acompanhar o
time, como fez na quarta passada e seguiu até SJR Preto, numa caravana
com o ônibus quebrado na volta e viagem de 3h durando 24h. No negócio a
lhe render a grana para movimentar sua
vida, emprega muitos da família, sua de sol a sol, mas consegue
arrebanhar o suficiente para ter o que deseja e precisa para continuar
tocando o barco. Sabem qual a última dele? Não, pois conto. O Noroeste
vende placas de publicidade para serem instaladas ao lado do campo. São
mais de 20 e pouco mais de umas seis estão expostas. Muito pouco, uma
boca desdentada, diante de tudo o que poderiam fazer. Comerciantes
ilustres, industriais idem, gente cheios de bufunfa e com lucros
estratosféricos são procurados para darem seu quinhão de contribuição.
Regateiam, na sua maioria, fogem do pau. Uau-uau para ajudar o time fez
um contrato e paga R$ 500 reais mês. “Olhem para o campo, faltam vender
mais 18, mas acabei por me sacrificar, fiz uma. Ficou boa? Tá difícil e
poderiam ajudar mais. Eu fiz a minha parte”, me diz sorrindo quando peço
para tirar uma foto dele tendo ao fundo a sua placa, quase atrás de um
dos gols do estádio.