Nômade Futebol Clube


Primeiro foi o Grêmio Barueri. Após divergências com a prefeitura da cidade natal, que dava apoio financeiro ao clube, que é privado, além de destinar instalações públicas para uso de uma equipe profissional (fatos que por si só já eram escandalosos), os donos do clube-empresa negociaram “melhores condições” com outra prefeitura e se mudaram, se tornando o Grêmio Prudente. Mas a epopeia não acabou: já se fala em nova mudança, em busca de mais caraminguás.

Agora é a vez do Guaratinguetá. De acordo com seus investidores, os empresários da região não estão dando o suporte econômico que era esperado, diferentemente do que aconteceria em outras cidades. Portanto, malas prontas!
Times de futebol sem raízes, sem tradição, sem identidade, sem torcida, sem paixão, sem estádio e sem estrutura têm, obviamente, pouco futuro esportivo. Mas não é nem o caso de alertarmos os donos desses clubes-empresas de que eles estão dando tiros nos pés. Me parece que eles não estão nada preocupados com questões esportivas, mas apenas comerciais.

A Federação Paulista de Futebol já mostrou irritação com a situação, aumentando substancialmente o valor cobrado pela transferência, mas diz que nada mais pode fazer a respeito, já que a legislação esportiva permite mudanças de sede sem maiores implicações.

Uma alteração simples nessas regras bastaria para desestimular os nômades: cada transferência de sede, ou mesmo troca de nome, resultaria em rebaixamento automático do clube às divisões iniciais do futebol profissional. Assim, os “novos” times teriam que remar tudo novamente, fazendo com que seus comandantes pensassem melhor antes de procurar outros ares como quem troca de sapatos.

Não podemos negar que, pelo menos nos dois casos citados, os neo-dirigentes mostraram-se bem mais competentes do que a média nacional. Suas equipes, quase inexistentes há poucos anos, foram subindo de divisões seguidamente, tanto regionalmente quanto nacionalmente, até chegarem às séries B (Guaratinguetá) e A (Prudente) do Brasileirão. Virtude que mostra também a incompetência e o amadorismo reinantes em clubes tradicionais do nosso futebol.

Mas isso é só um adendo. Essa inversão da “ordem natural” (primeiro o negócio, depois o esporte) é inaceitável.  É ótimo que novas iniciativas sejam tomadas e que clubes com uma concepção mais moderna tentem seu lugar ao sol. Desde que, além das intenções mercantis, cultivem também outros valores, como respeito e apreço por torcedores e pelo próprio esporte.
Por: Márcio R. Castro (Blog doTorero)

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