O CENTENÁRIO NOROESTINO, OS ESQUECIDOS E RENEGADOS, DOZE DIAS DEPOIS
Enquanto no resto do país se falava no dia 01/09 sobre o Centenário do Sport Club Corinthians Paulista, aqui por Bauru o assunto era outro, o também Centenário do Esporte Clube Noroeste, a “maquininha vermelha” ou como preferem alguns, a “locomotiva alvirrubra”. Cem anos de muito sangue, suor e lágrimas. Quem melhor sintetizou a história desses cem anos foi um jornalista, já falecido, José Carlos Galvão de Moura (escrevi dele aqui no blog em 01/09/2010). Todo torcedor possui muita lembrança dele, a diretoria atual, nenhuma.
Seu livro, o “Onze Camisas Futebol Clube” retrata bem como foi e é a vida da maioria dos times de futebol pelo interior brasileiro, uma pedreira na maior parte de sua existência. Com o Noroeste não foi diferente. Altos e baixos e uma dificuldade na maior parte do tempo, sobrevivência difícil e tumultuada, principalmente no quesito financeiro e organizacional. São histórias mil, afinal são 100 anos. Tudo isso para dizer, que o centenário aconteceu, festa no estádio com jogo entre veteranos e algumas homenagens. Damião Garcia, o atual presidente, ganhou o nome no complexo em torno do estádio. Dono da grana, faz e acontece no clube ao seu bel prazer.
Ouve pouco as pessoas no seu entorno e toca o time (clube não existe, só time) conforme sua cabeça e seus interesses. Tirou o time do atoleiro financeiro, mas está afastando ele da cidade. A paixão continua, mas pouca bola é dada à torcida, assim como, com o elenco atual, pouca bola é jogada no campo de jogo. Passo no escritório de Cacau dias antes da festa e uma surpresa, nada foi lembrado sobre seu pai, nem uma mera medalhinha. E isso aconteceu com muitos. Os homenageados não podem criticar nada, bico calado. Protestou ou contestou, vira esquecido. Cacau nem isso fez, mas o pai, um que reverenciou o Noroeste por décadas caiu no ostracismo da atual direção. Os torcedores continuam a lembrar dele com saudade, mas nem isso sensibiliza Damião e sua equipe.
O centenário ocorreu dessa forma. Uma festa dentro do campo para convidados e a torcida longe de tudo, vendo à distância. Se homenagens ocorreriam, poderia ser num lugar onde a torcida tivesse acesso, pudesse aplaudir seus ídolos. Insensibilidade total. Uns lembrados e a maioria esquecida. Dessa forma, o time completou cem anos. Fui à festa, tentei ver um show (péssimo gosto, por sinal, apesar do belo aparato montado) e um jogo de veteranos (ninguém transmitindo, não se sabia quem eram a maioria dos jogadores).
Vendo a torcida “Sangue Rubro” ser maltratada, fui embora. Mas o Noroeste continua e ano que vem volta a disputar a 1º divisão do Paulistão. Lá estaremos, sem saber ao certo o que nos espera quando Damião resolver parar de brincar de bancar o Noroeste. Mesmo com tudo isso, uma frase de Jota Martins, um jornalista a cobrir o time não me sai da memória: “Pode meu time perder, que não sinto tanto quando isso ocorre com o Noroeste. Isso me estraga o dia”.
OBS.: Escrevo isso doze dias após o do Centenário, a poeira baixou, ontem o time jogou contra o Penapolense aqui em Bauru e empatou por 2X2 (não tive como ir, jogo às 19h de sábado), mas a incerteza pelo que virá persiste. Ao ler uma matéria sobre a forma como a CBF tratou o estádio do Morumbi, pronto e necessitando de uma reforma (gastos muito mais reduzidos), descartando-o pelo ainda projeto do estádio do Corinthians (gastos novos e altos), deixando claro que ninguém que faz oposição a Ricardo Teixeira será premiado com benesses na Copa de 2014. Teixeira não perdoa. Por aqui, a escrita poderia ser DAMIÃO NÃO PERDOA. Esse é o retrato do futebol brasileiro, o dirigente faz e acontece e não perdoa ninguém. Todas as fotos foram tiradas no dia da festa do centenário, do lado dos pobres, o da torcida. Nenhum desses teve acesso ao lado dos ricos, o gramado do campo. Continuo torcendo, como sempre fiz, mas colocando a boca no mundo.