Clubes sem pátria

Uma nova realidade vem se instalando rapidamente no futebol brasileiro. O futebol paulista, pelo menos, mostra uma nova cara, especialmente no Paulistão deste ano.


Os clubes não têm mais pátria. Muitas agremiações vêm jogando fora de seus estádios, ou por interesses financeiros, ou porque a Federação não teve a aprovação de seus estádios.

O novato Monte Azul, recém promovido à Série A1, não tem estádio com estrutura e capacidade de público suficientes para disputar a competição, para a qual foi guindado. Conclusão: Manda seus jogos em Ribeirão Preto, no estádio Santa Cruz do Botafogo.

O interessante é que em 1953, quando o Noroeste de Bauru subiu pela primeira vez para a divisão principal paulista, a Federação Paulista de Futebol exigiu uma construção em tempo recorde para poder participar da competição.

A então Estrada de Ferro Noroeste, graças ao seu diretor à época, general Marinho Lutz, teve que desenvolver um esforço sobrenatural para deixar o Estádio Alfredo Castilho em condições, aumentando sua capacidade para 20 mil torcedores.

Não faz muito tempo o Novo Horizontino teve quer erguer um estádio em concreto armado para participar do Paulistão. Agora virou bagunça. Basta pagar uma taxa à Federação de R$ 500,00 e pode mudar o mando de jogo.

Muitas equipes que não estão com seus estádios em condições estruturais, de segurança, ou mesmo para conseguir lucros mais expressivos em seus jogos, transferem as partidas para outras cidades e outros estádios.

O Bragantino manda seus jogos na Arena de Barueri e segundo seu presidente, Marco Antônio Chedid, pode até ir para Araraquara. Ele diz que está cansado de acumular prejuízos de R$13.000,00 a R$14.000,00 por jogo.

O Oeste também não tem estádio adequado e manda seus jogos em Araraquara. O Sertãozinho joga ali de lado, em Ribeirão Preto.

É o futebol espetáculo que começa a predominar. São os interesses econômicos que falam mais alto. Se a cidade não corresponde aos investimentos do clube, não participa, não vai ao campo, corre o risco de não ver seu time em ação. Só com jogo televisado.

São os clubes sem pátria. Jogam e mostram seu futebol, onde haja público e dinheiro. O pior é que não podemos condená-los. Montar time custa muito caro e não dá para depender de seu público, em sua casa, se não há receita suficiente para pagar as contas.

Com isso os clubes menores vão perdendo de vez seus torcedores e correm o sério risco de em pouco tempo não ter mais torcida, já que perdem completamente sua identidade com a cidade e com seus moradores.

Só os clubes grandes vão mantendo seus adeptos e, em virtude de uma mídia muito forte vão aumentando cada vez mais seu universo de simpatizantes, dependendo de sua estratégia de marketing.

Essa é uma nova realidade que está sendo rapidamente construída, com grandes possibilidades também de um completo esvaziamento das competições regionais em nível de primeiro escalão. Ou seja, o Paulistão pode acabar.

Isso instala uma cobrança muito séria. Ou os clubes pequenos e médios crescem em força e estrutura ou serão condenados eternamente a campeonatos de segundo escalão. Quem ficar fora das disputas nacionais estará definitivamente condenado.
Por:Paulo Sergio Simonetti

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